Atração De Sangue. Victory Storm
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Consegui vê-lo melhor, apesar da vista desfocada pelas lágrimas e pela escuridão. Tinha o pelo claro, o focinho esfumado de preto e os olhos emanavam uma luz dourada.
Fiquei muito surpresa por encontrar um gato logo naquele momento.
Sempre desejei ter um gato, mas a tia era tremendamente alérgica ao pelo deles, assim nunca tinha conseguido ter um. Nem mesmo quando encontrei um pequeno rafeiro preto na estrada e fechei-o todo o dia no quarto para a tia não o ver, consegui ficar com um.
Lembro-me como a tia começou imediatamente a espirrar e a respirar mal, logo contei-lhe que tinha encontrado um gatinho.
Veio-me à mente a sua cara perturbada, enquanto dizia-me para levá-lo dali para fora o quanto antes.
Acabou por me salvar o padre Dominick que levou o gato, prometendo-me que lhe ia encontrar uma família amável capaz de cuidar dele.
Quem sabe que fim teve aquele gatinho?
Não soube mais nada dele.
De qualquer forma, depois daquele episódio, passou-me a vontade de ter um gato.
Naquele momento, aquele gato pareceu-me uma pequena consolação divina, para ajudar-me a não me sentir tão sozinha.
Era a primeira vez que estava sem a minha tia e isso fazia-me sentir perdida, sobretudo nesta situação, onde arriscava de morrer.
Queria a minha vida de volta.
Fico devastada ao pensar em tudo aquilo que tinha perdido.
Recomecei a chorar, sem me dar conta que algumas lágrimas caíam sobre o pelo do gato, que, entretanto, continuava a acariciar delicadamente.
Não sabia quanto tempo tinha passado, mas sentir nas mãos o pelo suave do gato tranquilizou-me e relaxou-me de tal forma que, acabei por adormecer esgotada pelas emoções.
Não era um verdadeiro sono profundo.
Na minha mente continuavam a passar imagens de todo o tipo, relacionadas com o passado e com o presente, mas em todo o lado estavam aqueles olhos azuis que me prometiam morte.
Acabei por acordar sobressaltada.
Senti-me desorientada, mas o solo duro, a parede fria contra as minhas costas e a posição desconfortável recordaram-me imediatamente onde me encontrava.
Rapidamente, tentei lembrar os últimos acontecimentos.
O gato.
Não estava mais sobre as minhas pernas e não sabia onde estava.
«Gatinho, onde estás?» sussurrei, procurando-o com o olhar no escuro da sala.
«Foi-se embora» murmurou uma voz da outra parte da pequena sala, fazendo-me saltar de medo.
«Matt?» pronunciei esperançosa.
Logo a seguir, ouvi passos lentos na minha direção.
De repente, uma figura preta aproximou-se na minha frente.
Reconheci os sapatos pretos.
Depois o meu olhar levantou-se em direção às calças. Pretas.
De seguida, um longo impermeável de pele negra, aberto à frente deixava entrever uma camisa de seda negra ligeiramente desabotoada.
Não me lembrava que Matt usasse um impermeável.
Tomada pelo nervosismo, levantei ainda mais rapidamente o olhar, até que ficou novamente refém daqueles olhos azuis, que conseguiam destacar-se apesar da pouca luz. Era ele. O vampiro.
Sufoquei um grito.
O meu medo fê-lo dobrar os ângulos da boca num sorriso satisfeito, mas ao mesmo tempo ameaçador.
«Não sou o Matt, desculpa-me. Apresento-me. Blake» apresentou-se, fazendo uma vénia. Apesar daquela aparente gentileza, mostrava perfeitamente a sua satisfação cruel por ter-me encontrado.
Blake. Era ele. O vampiro invencível que me queria morta a todos os custos.
Continuei a olhá-lo fixamente, sem me aperceber que me tinha estendido a mão para me ajudar a levantar.
Apercebi-me que não tinha forma de fuga, mas procurei levantar-me sem ele. Tinha demasiado medo de tocá-lo.
Apoiei-me na parede gelada e levantei-me, apesar da dor nas pernas, que tinham ficado encolhidas numa má posição por não sei quanto tempo. Senti imediatamente um formigueiro nos pés e isso fez-me perder o equilíbrio por um instante, mas o vampiro com um movimento rápido segurou-me por um braço e ergueu-me.
Aquele gesto repentino me fez ficar aterrorizada.
Se estivéssemos numa outra situação, tinha-lhe agradecido de bom grado, mas naquele momento apercebi-me apenas que estava nas mãos do inimigo.
Procurei libertar-me com um empurrão, mas o seu punho era firme e depois da minha tentativa tornou-se ainda mais rígido, quase doloroso.
«Vamos» ordenou-me com um tom de voz que não admitia réplicas.
«Onde me levas?» perguntei hesitante tentando manter a distância.
«Para fora daqui» respondeu-me distraidamente, acompanhando-me à porta pela qual devíamos escapar eu e o Matt.
Não pronunciei uma palavra, mas sabia que aquela porta não se abria, assim teríamos que voltar para trás e talvez pudesse pedir ajuda quando chegássemos.
Embalada pelas minhas esperanças, deixei-me transportar sem protestar.
Blake forçou um pouco a porta, sem deixar o meu braço e esta abriu-se rangendo.
Vi todas as minhas esperanças desaparecerem, mas não tinha nenhuma intenção de ir-me embora sem ao menos voltar a ver a minha tia.
Comecei assim a fincar os pés, apesar do formigueiro que ainda me incomodava.
«Espere, quero ver a minha tia Cecília» supliquei-lhe.
«Não» respondeu-me simplesmente, continuando a arrastar-me pelo novo corredor que aparecia diante de nós.
Naquele caso, não aceitava uma resposta do género.
«Não vou embora daqui sem a minha tia!» levantei a voz estridente com toda a minha coragem.
O vampiro parou e voltou-se para mim com um olhar assassino.
Não me interessava se tinha provocado o seu instinto sanguinário, não tinha intenção de ceder facilmente.
Estava numa pilha de nervos. Sentia novamente as lágrimas roçarem-me os olhos, mas correspondi na mesma o seu olhar.
«Agora saímos daqui, sem a tua tia e tu vais parar de gritar. Fui bem claro?».