Romancistas Essenciais - Joaquim Manuel de Macedo. Joaquim Manuel de Macedo

Чтение книги онлайн.

Читать онлайн книгу Romancistas Essenciais - Joaquim Manuel de Macedo - Joaquim Manuel de Macedo страница 9

Romancistas Essenciais - Joaquim Manuel de Macedo - Joaquim Manuel de Macedo Romancistas Essenciais

Скачать книгу

dele, não vês o que se passa a duas polegadas do nariz. Pois, meu amigo, quero te dizer: a teoria do amor do nosso tempo aplaude e aconselha o meu procedimento; tu verás que eu estou na regra, porque as moças têm ultimamente tomado por mote de todos os seus apaixonados extremos, ternos, afetos e gratos requebros, estes três infinitos de verbos: iscar, pescar e casar. Ora, bem vês que, para contrabalançar tão parlamentares e viciosas disposições, nós, os rapazes, não podíamos deixar de inscrever por divisa em nossos escudos os infinitos desses três outros verbos: fingir, rir e fugir. Portanto, segue-se que estou encadernado nos axiomas da ciência.

      — Com efeito! ... Não te supunha tão adiantado!

      — Pois que dúvida? Para viver-se vida boa e livre, é preciso andar com o olho aberto e o pé ligeiro. Então as tais sujeitinhas que, com a felicidade e indústria com que a aranha prende a mosca na teia, são capazes de tecer de repente, com os olhares, sorrisos, palavrinhas doces, suspiros a tempo, me deixes aproximando-se, zelos afetados e arrufos com sai e pimenta, uma armadilha tão emaranhada que, se o papagaio é tolo e não voa logo, mete por força o pé no laço e adeus minhas encomendas, fica de gaiola para todo o resto de seus dias... E, portanto, meu Augusto, deixa-te de insípidos escrúpulos e ajuda-me a sair dos apuros em que me vejo.

      — Torno a dizer-te que estás doido, Fabrício, pois que me acreditas capaz de servir de instrumento para um enredo... uma verdadeira traição. Então, que pensas? Eu requestaria d. Joaninha, não é assim?... Tu a deixavas, fingindo ciúmes, e depois quem me livraria dos apertos em que necessariamente tinha de ficar?...

      — Ora, isso não te custava cinco minutos de trabalho: tu... inconstante por índole e por sistema!

      — Fabrício, deixa-te de asneiras; já que te meteste nisso, avante! Além de que, d. Joaninha é um peixão.

      — Oh! Oh! Oh!... Uma desenxabida...

      — Que blasfêmia!

      — Além disso é impossível... Não posso suportar o peso: escrever quatro cartas por semana... Só o talento que é preciso para inventar asneiras e mentiras dezesseis vezes por mês! ... E depois, o Tobias...

      — Puxa-lhe as orelhas.

      — Como?... Se ele é a cria de d. Joaninha, o alfenim da casa, o São Benedito da família!

      — Não sei, meu amigo, arranja-te como puderes.

      — Lembra-te que foste a causa principal de tudo isso.

      — Quem?... Eu?... Eu apenas te disse que não sabias o gosto que tinha o amor à moderna.

      Pois bem, saí do meu elemento, fui experimentar a paixão romântica... aí a tem! ... A tal paixãzinha me esgotou já paciência, juízo e dinheiro. Não a quero mais.

      — Tu sempre foste um papa-empadas.

      — Sim, e há dois meses que não sei o que é cheiro delas. Anda, meu Augustozinho, ajuda-me!

      — Não posso e não devo.

      — Vê lá o que dizes! Tenho dito.

      — Augusto!

      — Agora digo mais que não quero.

      — Olha que te hás de arrepender!

      Esta é melhor! ... Pretendes meter-me medo?... Eu sou capaz de vingar-me.

      — Desafio-te a isso.

      — Desacredito-te na opinião das moças.

      — E um meio de tornar-me objeto de suas atenções. Peço-te que o faças.

      Descubro e analiso o teu sistema de iludir a todas. Tornar-me-ás interessante a seus olhos.

      — Direi que és um bandoleiro.

      — Melhor, elas farão por tornar-me constante.

      — Mostrarei que a tua moral a respeito de amor é a pior possível. Ótimo! ... Elas se esforçarão por fazê-la boa.

      — Hei de, nestes dois dias, atrapalhar-te continuamente.

      — Bravo!... Não contava divertir-me tanto! Então tu teimas no teu propósito?...

      — Pois, se é precisamente agora que estou vendo os bons resultados que ele me promete!

      — Portanto... estes dois dias, guerra!

      — Bravíssimo, meu Fabrício; guerra!

      — Antecipo-te que o meu primeiro ataque terá lugar durante o jantar.

      — Oh! Por milhares de razões, tomara eu que chegasse a hora dele!...

      — Augusto, até o jantar!

      — Fabrício, até o jantar!

      Neste momento Filipe abriu a porta do gabinete e, dirigindo-se aos dois, disse:

      — Vamos jantar.

      Capítulo V: Jantar Conversado

      Ao escutar aquele aviso animador que, repetido pela boca de Filipe, tinha chegado até o gabinete onde conversavam Augusto e Fabrício, raios de alegria brilhavam em todos os semblantes. Cada cavalheiro deu o braço a uma senhora e, par a par, se dirigiram para a sala de jantar. Eram, entre senhoras e homens, vinte e seis pessoas.

      Coube a Augusto a glória de ficar entre d. Quinquina, que lhe dera a honra de aceitar seu braço direito, e uma jovem de quinze anos, cuja cintura se podia abraçar completamente com as mãos. Um velho alemão ficava à esquerda dela e, sem vaidade, podia Augusto afirmar que d. Clementina prestava mais atenção a ele que ao jagodes, que, também, a falar a verdade, por seu turno, mais se importava com o copo que com a moça.

      D. Quinquina (como a chamam suas amigas) conversa sofrível e sentimentalmente: é meiga, terna, pudibunda, e mostra ser muito modesta. Seu moral é belo e lânguido como seu rosto; um apurado observador, por mais que contra ela se dispusesse, não passaria de classificá-la entre as sonsas. D. Clementina pertencia, decididamente, a outro gênero: o que ela é lhe estão dizendo dois olhos vivos e perspicazes e um sorriso que lhe está tão assíduo nos lábios, como o copo de vinho nos do alemão. D. Clementina é um epigrama interminável; não poupa a melhor de suas camaradas: sua vivacidade e espírito se empregam sempre em descobrir e patentear nas outras as melhores brechas, para abatê-las na opinião dos homens com quem pratica.

      Durante as primeiras cobertas ela dissertou maravilhosamente acerca de suas companheiras. Maliciosa e picante, lançou sobre elas o ridículo, que manejava, e os sorrisos de Augusto, que com destreza desafiava. As únicas que lhe haviam escapado eram d. Quinquina, provavelmente por ficar-lhe muito vizinha, e a irmã de Filipe, que estava defronte ou como é moda dizer — vis-à-vis.

      Augusto quis provocar os tiros de d. Clementina contra aquela menina impertinente, que tão pouco lhe agradava.

      — E que pensa V. S.ª desta jovem senhora que está defronte de nós? perguntou ele em voz baixa.

      Quem?... A Moreninha?... respondeu ela no mesmo tom. Falo da irmã de Filipe, minha

Скачать книгу