Os meus três amores - Tal como sou. Rebecca Winters
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Rachel abriu outra mensagem de correio electrónico e perguntou-se como é que aquele homem conseguia manter uma conversa sozinho durante tanto tempo.
Quase sem o ouvir, mandou o seu último artigo e, depois, desligou o computador. Ao levantar o olhar, viu o seu todo-o-terreno pela janela.
Depois, olhou para o relógio. Sullivan chegava cedo. Quase três horas antes de tempo.
Sim!
– Mitch, tenho de desligar. Sullivan acabou de chegar com os bebés.
– Continuo sem gostar do facto de estares sozinha com ele. Telefona-me se tiveres algum problema.
– É militar, Mitch. Ou estou em boas mãos ou nunca encontrarás o meu cadáver.
– Não és nada engraçada!
– Eu sei.
Ainda que Rachel não receasse pela sua vida, mas pela sua tranquilidade moral. Não só porque aquele homem ameaçara levar os gémeos, mas porque sonhara com as suas mãos enormes a acariciá-la.
Bateram à porta.
– Mitch, ficarei bem. Tenho de ir – desligou o telefone e dirigiu-se para a porta. Não queria que Sullivan percebesse que estava acalorada e incomodada.
Abriu a porta e espreitou. Sullivan estava sozinho no alpendre.
– Sullivan. Chegou muito cedo.
Ele passou uma mão pelo cabelo. Era o primeiro sinal de vulnerabilidade que mostrava. Atrás dele nevava ainda mais do que há alguns minutos. Os flocos brancos caíam sobre os seus ombros largos e o cabelo escuro. Rachel alegrou-se por vê-lo despenteado.
Ele corou. Rachel pestanejou, surpreendida. Será que corava de raiva ou de vergonha?
– Chama-me Ford, ou Mustang, se preferires. Deixa-me ser directo – pediu, olhando para ela nos olhos. – Lamento muito. Tirei conclusões precipitadas. Fizeste um trabalho óptimo a tratar de Cody e Jolie sozinha durante a última semana. Obrigado por teres estado presente para eles.
Que injusto! Ela esperara vê-lo num momento de fraqueza e, em vez disso, ele mostrava toda a sua força, desculpando-se com sinceridade. E queria que lhe chamasse Mustang? Imaginou os bonitos cavalos de corridas, orgulhosos e selvagens, livres e temerários; conseguia imaginar porque lhe tinham dado aquela alcunha.
Não, continuaria a chamá-lo Sullivan, que era muito menos íntimo.
– Já chega. Ou vais fazer-me chorar – ela saiu. – Vamos pôr as crianças em casa, está a nevar.
Abriu a porta que ficava mais perto, tirou Jolie e voltou para casa. Os seus dentes batiam de frio, já que não vestira casaco, portanto foi directa ao fogo.
Estendeu uma manta no chão e deixou Jolie nela com alguns carros de brinquedo. Depois, recuou e observou como Sullivan deixava Cody na manta.
Depois, enrolou-se num lado do sofá, enquanto Sullivan andava de um lado para o outro.
Daquela vez, Rachel não tinha de se envergonhar. Estivera muito ocupada durante as últimas vinte e uma horas. Bom, passara a primeira parte do tempo a dormir, mas depois limpara a casa e arrumara a roupa. Além disso, escrevera alguns artigos a respeito dos costumes dos animais.
– A casa tem um aspecto óptimo.
– Tu não – Jolie parou de brincar com os carros e foi a gatinhar até Rachel, que pegou nela ao colo. – Quanto tempo dormiste?
– Já dormi menos antes – respondeu ele. – O problema não foi a falta de sono, mas a impotência. Sou um homem de acção, mas nada do que fiz pareceu estar bem.
– Isso aconteceu-me durante os três primeiros dias, até começarem a tranquilizar-se.
A conversa estava a correr bem. Até a fez rir-se quando lhe contou que encontrara os cereais na mala, e que, dado que não tinha onde sentar as crianças, os pusera nas cadeiras do carro.
– Pelo menos, pararam de chorar enquanto comiam – comentou Sullivan, segurando em Cody, que estava a tentar subir-lhe pela perna.
– Consolam-se um ao outro – replicou Rachel, passando a mão pelo cabelo suave de Jolie.
O olhar de Sullivan disse tudo.
– Queres dizer que se alimentam das emoções um do outro. Um começa a chorar e o outro tenta superá-lo.
– Tens de recordar que estão traumatizados – Rachel defendeu os seus sobrinhos. – Perderam os seus pais. Vai ser difícil recuperar.
– Sim e quanto mais depressa o fizerem, melhor. Consideraste assinar os papéis?
Rachel sentiu-se decepcionada. Mas não ia assinar. Nem então nem nunca.
– Acho que devias ser tu a assiná-los – desafiou-o.
Antes de ter tempo de responder, as luzes tremeram. Uma vez. Duas. Depois, voltaram.
– Oh!
Segurando em Jolie com força, Rachel aproximou-se da janela. O vento era tão forte que nevava quase na horizontal e muito. O que confirmava os seus receios.
Era uma tempestade de neve.
– Tem mau aspecto – comentou Sullivan, de trás dela.
Rachel cheirou o perfume dele. Cheirava a almíscar e a homem, uma mistura embriagadora, que quase conseguiu distraí-la da tempestade.
Mas aquilo teria sido um erro terrível.
– Sim. Uma tempestade de neve. Não disseram nada nas notícias – era evidente que devia ter prestado atenção a Mitch.
– Não seria a primeira vez que se enganavam.
Rachel riu-se.
– Tens razão.
O seu todo-o-terreno já estava enterrado por baixo de uma camada de neve e de gelo. Tinha de o levar para a garagem se não quisesse que o motor congelasse.
As luzes voltaram a tremer. Depois, restabeleceram-se.
Mas isso não duraria.
– Tens um gerador? – perguntou ele.
– O combustível está no celeiro.
Rachel esperava ter o suficiente para passar a tempestade. Dado que vivia sozinha, aprendera a estar preparada, mas uma tempestade destruíra uma torre no fim de Setembro e deixara-a sem electricidade. Não tivera tempo de repor o combustível antes de receber as notícias terríveis da morte de Crystal. E depois estivera tão ocupada com os gémeos que também não pensara nisso.
– Devia ir-me embora. Suponho que me deixarão ficar no hotel se voltar sem as crianças.