Os meus três amores - Tal como sou. Rebecca Winters
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– Conduzi em situações piores.
– Portanto, queres voltar a deixar-me sozinha com os bebés? – calçara uma bota e tinha a outra não. Parou para apoiar as mãos nas ancas. – Olha, eu também não gosto que fiques, mas não deixaria que o meu pior inimigo se fosse embora com semelhante tempestade. Espera, tu és o meu pior inimigo.
Ele arqueou uma sobrancelha enquanto embalava os bebés, mas limitou-se a dizer:
– Só estamos a nove quilómetros da cidade.
– Só? – Rachel calçou a outra bota. Que Deus ajudasse os turistas ignorantes. – De onde és?
– Do sul da Califórnia. Mas fui treinado para todo o tipo de situações climáticas extremas.
– Não duvido. Mas não precisas de o fazer. Agora, dá-me as chaves.
Ele franziu o sobrolho e olhou pela janela.
– Tu também não devias sair.
– Tenho de sair. Se não levar o todo-o-terreno para a garagem, ficarei sem motor.
– Eu faço-o.
Ela abanou a cabeça enquanto punha um cachecol para tapar a garganta e as orelhas.
– Também preciso de combustível para o gerador e trarei um pouco de lenha.
Ele interpôs-se no seu caminho.
– Eu faço-o.
– Olha, já me ajuda muito que fiques com os gémeos – Rachel pôs as luvas e esperou que ele se afastasse. – Sei o que estou a fazer.
Ele cedeu e pôs a mão no bolso das calças para lhe dar as chaves.
– Tem cuidado.
– Tenho sempre. Há velas e fósforos na cozinha, no armário que está à esquerda do lava-loiça. No caso de faltar a luz antes de eu voltar.
Pôs a mão no armário e tirou um rolo de corda, que pôs ao ombro.
– Para que é isso? – quis saber Sullivan.
– Para me guiar na neve. Ato uma ponta ao alpendre e a outra à minha cintura. Assim não tenho problemas para voltar para casa.
– Isto é ridículo! Não posso deixar-te ir sozinha.
– Acho que já tivemos essa conversa. Vivo sozinha, Sullivan. Faço o necessário para sobreviver. Independentemente de ter comigo um machão – tirou um segundo par de luvas e pô-las sobre o primeiro. – E não tenho tempo para discutir.
Sem esperar por uma resposta, abriu a porta, saiu e fechou-a atrás dela.
Ford olhou para os dois bebés, que estavam ao seu colo. A sua segurança tinha de ser a prioridade, mas não gostava que Rachel tivesse de lutar sozinha contra os elementos.
Levou as crianças para o parque. Os dois aproximaram-se imediatamente da beira e levantaram-se. Ele deu-lhes alguns blocos de plástico para que se entretivessem. Nem Cody nem Jolie prestaram atenção aos blocos, mas protestaram.
Ele queria ir à janela e verificar os progressos de Rachel, porém, em vez disso, aproximou-se da lareira. Já estava a apagar-se. Pôs outro toro e, depois, começou a caminhar de um lado para o outro.
– O que dizes, Cody? Nós somos os homens. É o nosso dever proteger as mulheres. Não devíamos estar aqui e ela lá fora.
– «Ma ma ma ma»? – Jolie pôs um dedo na boca.
Ford parou e olhou para Jolie. Era estranho ouvi-la a chamar «mamã», ou algo parecido, a Rachel. E fê-lo pensar em como a vida dela mudara num período de tempo tão curto.
Tony e Crystal já não estavam lá, tinham falecido num terramoto no México.
Ao voltar da sua missão, surpreendera-se ao saber que era o tutor dos filhos de Tony. Sim, era verdade que aceitara a responsabilidade, mas nunca pensara que fosse necessário assumi-la. E muito menos tão cedo. Mas, quer estivesse preparado ou não, devia-o a Tony. Ele salvara-lhe a vida e a honra e a amizade obrigavam-no a cumprir o seu último desejo.
Tony sempre invejara a família tão unida que Ford tinha, por isso quisera que fosse ele a criar os seus filhos. O que significava que tinha de levar as crianças para casa. Iria viver com a sua avó, que acedera a cuidar deles. E também contrataria uma ama.
Ford não queria magoar Rachel, mas as coisas teriam de ser assim.
A tempestade, no entanto, ia atrasar o inevitável.
Rachel surpreendera-o muito. Os seus olhos e aquele cabelo loiro, curto e atrevido, escondiam uma paixão interior que certamente quase ninguém conhecia.
Apesar de a sua maneira de o proteger o frustrasse, respeitava o seu espírito, o seu desejo de ser capaz de cuidar das crianças.
Só tinha de a convencer de que elas estariam melhor com ele.
Depois de a ter salvado de congelar lá fora.
Apesar da sua teimosia e da sua força, quase não devia pesar nada. Atada ao extremo da corda, teria de lutar como um gato contra um furacão.
Só tinham passado cinco minutos desde que ela saíra, mas Ford não conseguia suportar mais. A sua avó não o ensinara a sentar-se enquanto uma mulher fazia o trabalho árduo. E muito menos enquanto arriscava a sua vida numa tempestade como aquela.
Aproximou-se dos bebés e percebeu que estavam a dormir, abraçados um ao outro.
– Isso é o que eu chamo jogar em equipa – comentou, pondo-lhes uma manta por cima. – Fiquem aí. Eu vou ajudar Rachel.
O frio atacava Rachel, congelando as partes do seu corpo que não estavam cobertas, travando-a, fazendo com que cada respiração a cortasse como o gelo. A neve e a chuva batiam no pára-brisas, dificultando a visão.
O motor não arrancou nas primeiras tentativas. Rachel temeu que fosse demasiado tarde. Fazendo figas, tentou uma última vez e respirou com mais tranquilidade ao ver que finalmente arrancava.
Graças a Deus. Não queria que Sullivan ficasse ali preso mais tempo do que o necessário. Infelizmente, o necessário seria pelo menos alguns dias.
E, o pior, quando o tempo melhorasse, Sullivan queria levar os gémeos. Nem sequer conseguia pensar nisso.
Portanto, não pensaria.
Como se isso fosse possível.
Enquanto esperava que o motor aquecesse, Rachel apoiou a cabeça no volante e perguntou-se o que ia fazer se Sullivan lutasse para ficar com a custódia das crianças.
Ela vivia numa casa de um só quarto em Scobey, em Montana, uma localidade de pouco mais de mil habitantes. E trabalhava como assistente de veterinária numa clínica porque gostava mais de lidar com animais do que com pessoas.